O que não é Espiritismo (Agora com meus comentários)

Artur Azevedo, espírita niteroiense que está junto com alguns poucos heróis como José Manoel Barboza, Sérgio Aleixo, Jorge Murta, Maria das Graças, entre outros, no combate a deturpação que se popularizou no movimento espírita brasileiro, fez uma lista com vários dogmas estranhos que foram anexados à versão brasileira da doutrina. Eu tinha publicado uma postagem com esta lista, mantendo o texto original de Azevedo.

Agora reproduzo novamente esta lista, só que agora, com meus comentários para cada item. Aproveitem e reflitam.

OBS: A divisão original foi mantida. Apenas o item 26, eu fiz questão de dividir para comentar em separado. Eis a lista:

1 - Kardecismo (termo impróprio e não presente na Codificação):
Acho que mesmo não presente na codificação, poderíamos retomar o termo, mesmo que informalmente, para diferir o Espiritismo desse carnaval em que se transformou a doutrina no Brasil, chefiada pelas diretrizes orientadas por Chico Xavier e seus espíritos obsessores. Mas claro que não devemos nos referir oficialmente ao Espiritismo original com esse termo. Pensando bem, é melhor classificar a deturpação brasileira de Chiquismo.

2 - Crença na existência de "almas gêmeas":
Parece bobagem de astrólogo. Alma gêmea não existe! Cada espírito vem com sua trajetória particular e seu "curriculum vitae" único. A experiência de reencarnações de cada espírito é como a impressão digital: ninguém tem igual. Kardec já havia alertado a impossibilidade de existência das almas gêmeas e é preciso muita pieguice a abstinência do raciocínio para aceitar um absurdo como este.

3 - Incorporação (quando um espírito "entra" no corpo de um encarnado):
Outra tolice. Ninguém entra no corpo de ninguém. Na verdade, o espírito fica controlando o encarnado através da influência energética, através de fluídos.

4 - Apometria:
Os tratamentos espirituais não passam de meros placebos onde a cura é obtida não através do procedimento e sim pela tranquilidade da própria pessoa que, livre do estresse, consegue ter a energia necessária para alcançar a cura. Não tenho ainda uma opinião convicta sobre isso (necessário um estudo profundo de magnetismo), mas pelo que parece, é o que acabei de dizer.

5 - Animais no plano espiritual:
Não existe animais no mundo espiritual. Quando morrem, os animais reencarnam imediatamente.

6 - Médiuns perfeitos:
O que seria um médium perfeito? Um que só receba espíritos "de luz"? Com o nível energético em que se encontra a Terra, isso é pouquíssimo provável, já que não oferecemos a sintonia necessária para a comunicação constante de espíritos evoluídos. Ainda mais que os médiuns podem receber espíritos de qualquer nível evolucional, sobretudo de mediano para baixo. O correto era verificar quem se comunicou para não se deixar enganar. Como ninguém verificou, os espíritos enganadores se aproveitam para fantasiar-se de "sábios" e impor seus equivocados pontos de vista, que são imediatamente consagrados graças ao prestígio embutido nestes farsantes.

7 - Mesa branca:
A cor da mesa nada influi no nível energético de uma reunião espírita. O que influi é a elevação intelectual e moral e o cuidado rígido de não deixar se enganar por espíritos impostores.

8 - Assistencialismo institucional:
Ajudar os outros materialmente é válido. Eu mesmo acabei de fazer uma doação ontem. O erro está em achar que isso é tudo, além de definir um benefício que na verdade é paliativo, como "grande caridade". A verdadeira caridade está em ajudar no bem estar e no crescimento espiritual dos outros. Eu, escrevendo esta postagem, por incrível que pareça, estou fazendo uma grande caridade.

9 - Hinário "espírita" :
Ah, a musiquinha... Sempre a musiquinha. Muita gente pensa que a música em reuniões serve para "purificar" o ambiente. Tolice. Além de que, como eu disse, são raras as influências de espíritos superiores na Terra, as músicas cantadas em sua maioria são tolas demais para servirem de atração a espíritos superiores, atraindo apenas os medíocres e os enganadores. Além disso, não existe música "espírita". Se existisse, suas letras falariam dos pontos citados nos livros de Kardec e não do monocórdico trio paz-amor-esperança, tão comuns nas músicas consideradas "espíritas", mas que podem estar presentes em qualquer canção profana ou até atéia.

10 - Exilados de Capela:
Cientistas provaram que Capela não possui planetas e que a teoria do "planeta chupão" é uma farsa, uma bobagem que foi inserida pelos discípulos de Ramatis, um espírito enganador.

11 - Sincretismo:
Esta é a situação da versão brasileira da doutrina: uma verdadeira colcha de retalhos de outras crenças. Há muito de Catolicismo, Protestantismo, Orientalismos e até da Macumba, no movimento espírita brasileiro, e quase nada de Kardec. Há inclusive muitos pontos discordantes com as descobertas do mestre lionês, razão para a criação da lista que ilustra esta postagem.

12 - Idolatria a médiuns e espíritos:
É um ponto bem melindroso e motivo de brigas dentro da doutrina. Isso também serve como autenticação das bobagens que são inseridas na versão brasileira da doutrina, já que o prestígio de médiuns e seus "guias" (na verdade, obsessores) dá uma falsa garantia de legitimidade a certos pontos de vista.

13 - Mariolatria:
Enxerto apenas do Catolicismo. Maria não concordava com a militância de Jesus, se mantendo alheia a atividade de educação social de seu filho. O fato de ter sido mãe de Jesus nada tem a ver com a evolução espiritual de Maria, cuja importância para o desenvolvimento moral e intelectual da humanidade é absolutamente nula.

14 - Obrigação de "frequência" a centro espírita:
Enxerto de outras religiões. Eu mesmo não frequento com assiduidade e me sinto totalmente bem. Aliás, do jeito que as palestras estão cada vez mais cretinas, acho que até é melhor não ir para me poupar de engolir absurdos.

15 - Consulência:
O chamado "auxílio fraterno" onde supostamente uma pessoa dá conselhos sob a ótica "espírita" é na verdade um enxerto do Catolicismo, se parecendo com o confessionário. Eu mesmo passei por situações constrangedoras em "auxílios fraternos", acabando por não ter o meu problema resolvido. Desnecessário. Cada um que cuide de sua própria vida.

16 - Casamentos, batizados, bençãos e formaturas:
Pelo menos isto os espiritólicos brasileiros sabem que não faz parte da doutrina. Quem acha que faz parte, levou o delírio às últimas consequências.

17 - Culto ao Evangelho no lar:
Kardec não admitia rituais no Espiritismo. Não existe Evangelho no Espiritismo (a  famosa obra de Kardec é na verdade uma análise espírita do Evangelho católico, não um "Evangelho" para os espíritas) e não se deve fazer culto a nada. O que deve se fazer é um estudo profundo das obras, em qualquer hora, qualquer lugar e sem a necessidade de rituais.

18 - Uso de imagens, altares, pinturas, símbolos, velas, pirâmides, incensos, defumadores, banhos de "descarrego", amuletos e talismãs:
Embora a maioria disso tudo esteja realmente ausente no movimento espírita brasileiro, ainda vemos algumas coisas meio estranhas ainda presentes. Uma coisa não muito comentada e que noto bastante, é que os espíritas brasileiros ainda cultuam imagens. Há um busto de Leon Denis e outro de Kardec em um centro no Rio de Janeiro. Perto de casa, a fundadora do centro, já falecida, tem um retrato no salão de palestras. Há seguidores que ainda falam em amuletos, talismãs e coisas parecidas, além de simpatias.

19 - Simpatias:
Não há simpatias no Espiritismo, assim como não há superstições. 

20 - Prece mecânica e/ou decorada:
Deus e os espíritos bons só ouvem as preces e conversas quando elas vem do coração, com espontaneidade e amor. Às vezes uma palavra ou até mesmo o admirar de uma bela paisagem, já servem como oração. Preces que seguem fórmulas prontas não são assimiladas por Deus ou pela espiritualidade bondosa.

21 - "Dono" de centro espírita:
Interessante. Já repararam que todo administrador de centro espírita tem um padrão de vida de classe média alta, no mínimo? Não vemos pobres administrando os centros, mesmo que recebam recursos para isso (e quando recebem, não vão para os próprios bolsos?). Na cama feita, que nela cada um se deite. Cada um, colhe o que planta e não cabe a mim julgar nada.

22 - Corrente de orações:
Não há como uma oração dar certo se a própria pessoa não quer. Aliás, correntes dão ideia de ritual e como eu falei antes, Kardec reprova rituais. Melhor, correntes de todo o tipo devem ser evitadas, pois os espíritos zombeteiros adoram participar de correntes, podendo gerar danos graves.

23 - Vegetarianismo (veja mais aqui):
Cada um é responsável pelo que come. Pode comer de tudo, inclusive carnes (a proteína contida nelas é necessária), desde que mantenha a saúde de seu organismo, que é um instrumento de aperfeiçoamento intelectual e moral.

24 - Astrologia ou adoção de signos astrológicos:
Fujam dessa maluquice criada por um bando de desocupados que achou que não tinha nada melhor para fazer. São tolices que fogem da lógica e negam o nosso livre-arbítrio.

25 - Planeta chupão:
Não existe planeta chupão, como falei. Cada espírito tem a sua trajetória e a sua razão de encarnar ou não em qualquer planeta. E não é necessário a aproximação de um planeta para que uma população de espíritos recém-desencarnados seja transferida para ele, já que sem os corpos podemos nos deslocar por grandes distâncias rapidamente.

26a - Virgindade de Maria:
Se a crença católica estiver certa, tivemos um único caso de partenogênese na espécie humana, o que nunca foi sequer mencionado cientificamente. A Maria foi considerada virgem até a sua primeira relação sexual, na qual gerou Jesus (o que é algo nobre, extremamente louvável), que nasceu normalmente, como qualquer outro (Deus não dá privilégios a espíritos). Se o sexo fosse uma coisa reprovada por Deus, ele não teria escolhido este modo para facilitar a reprodução. O sexo é lindo e respeitoso. As coisas ridículas que fizeram com o sexo é que devem ser reprovadas.

26b - Outros mitos bíblicos como Adão e Eva, Arca de Noé, etc:
Era muito comum na Idade Antiga, usar de histórias fictícias para se explicar alguma coisa. Muitas dessas histórias tidas como verdadeiras, não passam de puras lendas passadas de geração a geração. Convém lembrar que na época, não se destacava se um fato contado foi real ou não, misturando narrações de acontecimentos realmente ocorridos com os inventados, que não ocorreram.

27 - Comemoração de datas religiosas:
Um feriado por comemoração de fatos ligados à doutrina seria uma boa ideia não acham? Claro que não! Vão trabalhar, vagabundos!

28 - Elementais (duendes, fadas, etc.):
Nem é preciso comentar isto, embora muitos personagens de qualquer religião tem a sua existência questionada. Há indícios de que, por exemplo, André Luiz, nunca existiu.

29 - Crianças índigo, cristal ou equivalentes:
Esse tipo de crianças não existe, sendo enxerto de uma seita duvidosa dos EUA. Coloquei um texto a respeito em postagem publicada aqui.

30 - Corpo fluídico de Jesus:
Deus não dá privilégios a espíritos. Todos caminham pelas mesmas etapas. Se é ruim para um pai terrestre escolher um filho entre vários, porque seria bom para o Pai dos Pais? Deus é inferior aos pais da Terra? Jesus passou por todos os níveis evolucionais até chegar ao que conhecemos e reencarnou em matéria bruta para entrar em contato conosco e deixar as lições brilhantes que nos ensinou.

31 - Vale dos suicidas, dos drogados, dos tatuados, etc:
Não existe vale nenhum. O ambiente pós-morte se molda de acordo com a nossa consciência.

32 - Jesus como "salvador", "cordeiro de Deus", etc:
Estes títulos bobos não combinam com Jesus. Jesus não veio salvar ninguém, veio para nos dar o exemplo e nos mostrar o caminho da evolução de nosso caráter.

33 - Crença na existência de alguma "Casa Máter" do Espiritismo:
Besteira inventada pela FEB para se auto-glorificar. Não existe uma espécie de "Meca" para o Espiritismo. nem mesmo Paris serve como sede do Espiritismo que, durante a codificação, foi manifestada em diferentes lugares, bem distantes uns dos outros.

34 - Brasil como pátria escolhida por Deus, "coração do mundo, pátria do Evangelho":
Ponto crucial para a solidificação das besteiras que vemos e ouvimos em nome da doutrina. Os espíritas brasileiros importaram do Judaísmo a tese do "Povo Escolhido", achando que o Brasil está na dianteira para a evolução espiritual, algo que, sinceramente, na prática se observa ao contrário. Os próprios rumos dados à doutrina pelos brasileiros, já servem como prova de que, pelo contrário do que se pensa, estamos entre os últimos na escalada pela evolução da humanidade. 

35 - Crença em Anticristo, Satanás, inferno e penas eternas:
Os espíritos considerados "maus" são na verdade ignorantes que ainda não entenderam a verdadeira importância do altruísmo.

36 - Rituais, simpatias, novenas, mantras ou utilização de quaisquer bebidas (alcoólicas e alucinógenas) antes, durante ou após as reuniões.
Já mencionei que Kardec não admite rituais. Não existe bebidas mágicas, que possam surtir algum efeito que favoreça a assimilação da doutrina. Orações que priorizem a forma tem efeito nulo.

*Artigo inspirado em tópico presente na Comunidade "Eu Sou Espírita", na Rede Social Orkut.

That's all, Folks

Uma análise espírita do filme "Um olhar do Paraíso"

OBS: Hoje é a chegada à maioridade da protagonista do filme Um Olhar do Paraíso do cineasta neo-zelandês Peter Jackson, a atriz irlandesa Saoirse Ronan, que tem tudo para ser a mulher mais linda e mais charmosa da década atual.

Para comemorar a data, reproduzo a análise, do blogue O Blog dos Espíritas, sobre o filme que consagrou a belíssima atriz (no qual ela interpreta a tal protagonista, Suzie Salmon), até então uma adolescente. Assisti ao filme, que é muito comovente.

As fotos que ilustram esta postagem são da entrevista coletiva dada pela atriz para falar justamente sobre o referido filme.

Uma análise espírita do filme "Um olhar do Paraíso"

Por Maria das Graças Cabral - 09:25 O Blog dos Espíritas

O presente artigo tem por objetivo, lançar um olhar espírita no filme intitulado “Um Olhar do Paraíso”, buscando analisar a narrativa do “Espírito Suzie”, quando fala de suas experiências pós mortem, sob a ótica dos preceitos Espíritas.

O filme objeto da análise é de 2009, tendo por diretor Peter Jackson, baseado num romance de 2002 da autora americana Alice Sebold. Trata da narrativa de Suzie Salmon, uma garota que aos 14 anos, depois de assistir no colégio a obra cinematográfica Othello, protagonizada por Lawrence Olivier, sai da sessão e marca um encontro com o rapaz do 3º ano do segundo grau (Ray), pelo qual possui um amor adolescente. “No shopping, sábado, às 10 da manhã” diz o rapaz. Suzie está voltando prá casa feliz, já imaginando o sábado, quando ganharia de Ray o tão sonhado primeiro beijo.

Ocorre que no caminho, torna-se vítima de George Harvey, seu vizinho, um tarado psicótico, que a convida a entrar num porão encravado em meio à um terreno ermo, a fim de mostrar-lhe um projeto, ao qual, segundo ele, dedicara toda sua vida.

Suzie o acompanha, é estuprada, esquartejada, e seu Espírito corre desesperadamente do local do assassinato, indo ao encontro de sua família, que a aguardava ansiosamente. Neste momento, o Espírito de Suzie é visto por Ruth Connors, “a garota estranha,” que “via coisas que os outros não viam” (médium).

Oportuno observar, que em O Livro dos Espíritos, Kardec indaga aos Espíritos Superiores, se na morte violenta (caso de Suzie), quando os órgãos ainda não se debilitaram pela idade ou pelas doenças, a separação da alma e a cessação da vida se verifica, simultaneamente. Os Espíritos respondem que “geralmente é assim; mas, em todos os casos, o instante que os separa é muito curto." Razão pela qual o Espírito da garota passou correndo, e foi visto pela médium. (LE, p. 161) Daí em diante, serão as percepções e falas do Espírito de Suzie objeto de análise do presente trabalho.

Logo depois do assassinato, quando é vista pela médium correndo desesperada na direção de sua casa, o Espírito vai à cidade, vê o pai mostrando sua foto aos transeuntes, numa busca angustiante. Chama-o, ele olha em sua direção, mas não a vê. De repente, todas as pessoas que transitavam na rua desaparecem da visão de Suzie.

Em seguida, a garota entra em sua casa, vê os cômodos desertos, e ouve a voz da mãe. Sobe escadas, entra em um cômodo iluminado e se depara com seu assassino num banheiro sujo de lama e sangue, imerso numa banheira cheia d’água, com o rosto coberto por uma toalha. Suzie se assusta e foge apavorada.

No que concerne às mortes violentas, nos ensina Kardec que o “Espírito é surpreendido, espanta-se, não acredita que esteja morto e sustenta teimosamente que não morreu. (...) Procura as pessoas de sua afeição, dirige-se a elas e não entende por que não o ouvem. Esta ilusão mantém-se até o completo desprendimento do Espírito, e somente então ele reconhece seu estado e compreende que não faz mais parte do mundo dos vivos.” (LE., p. 165) (grifei)

Oportuno observar as impressões do Espírito de Suzie quando diz: - “Eu estava deslizando. Foi como me senti. A vida estava me deixando, mas eu não estava com medo. Então me “lembrei” que eu tinha alguma coisa prá fazer. (grifei)

No que tange à lembrança de alguma coisa a fazer, nada mais natural face à forma abrupta como desencarnou, levando a recordação mais recente do encontro marcado no shopping com o garoto dos seus sonhos. Daí, quando lembra de Ray, o Espírito se transporta pelo pensamento ao local combinado onde ele a espera. Não consegue alcançá-lo, nem se fazer vista ou ouvida por ele.

Prossegue Suzie na sua fala: - “Aqui não é um lugar. Um lugar sem milharal, nem lembranças, nem túmulo. Mas eu ainda não estava olhando para o Além. Ainda estava olhando para trás. (...) Eu tenho que ir prá casa.” (grifei)

Mais uma vez o desejo forte de voltar à sua casa, ao encontro da família que ama. Enquanto isso, seus pais sofriam e se desesperavam. A mãe, fechou o quarto da filha, conservando-o como foi deixado por esta no dia de sua morte. Não suportando tanta saudade, foi trabalhar em outra cidade, deixando marido e filhos com sua mãe (avó de Suzie).

Quanto ao pai, mantinha-se obcecado na busca do assassino da filha. Em um ataque de desespero, começa a quebrar toda a coleção de miniaturas de barcos dentro de garrafas, que fazia como “hobby” e ensinara a Suzie. Enquanto quebrava as garrafas, o Espírito da filha via no seu mundo mental, garrafas gigantes num mar revolto, chocando-se contra rochedos, despedaçando-se, e deixando à deriva os imensos barcos que estavam dentro das mesmas.

Nesta percepção da garota morta, observa-se que as afinidades de sentimento e pensamento “ligavam” seu Espírito ao do pai. Como nos dizem os Espíritos Superiores, são os sentimentos e pensamentos afins que nos “conectam” aos seres espirituais e vice-versa.

Na busca por contacto com a filha, todas as noites o pai colocava na janela de casa, sobre uma garrafa que continha um barco e um farol, uma vela acesa, como que “sinalizando” para que Suzie não se perdesse de casa. Por seu turno, a garota via no seu mundo espiritual um enorme farol que também sinalizava. Até que ambos se vêm através da janela onde estava a vela, e ela fala: - Agora, vai ficar tudo bem, pois meu pai sabe que estou aqui. Eu ainda estava com ele. Eu não tinha me perdido, ou congelado, nem tinha partido. Eu estava viva. Estava viva no meu próprio mundo. No meu mundo perfeito. (grifei)

Oportuno ressaltar a constatação do Espírito de se perceber viva e ligada ao pai. Viva em um mundo perfeito e só seu, entendendo-se claramente que vive no seu mundo mental, fugindo de certas questões pertinentes à sua morte, que a assustavam.

Nesse meio tempo, o seu irmãozinho caçula, dizia ao pai que sempre via a irmã morta, que ela o beijava na bochecha, e que permanecia em casa, próxima deles.

Passados onze meses do seu desencarne, assim se expressa Suzie: - “Eu estava no horizonte azul, entre o céu e a Terra. Os dias não mudavam, e toda a noite eu tinha o mesmo sonho. O cheiro de terra úmida. O grito que ninguém ouvia. O som do meu coração batendo como um martelo debaixo da roupa, e depois os ouvia chamando. As vozes dos mortos. Eu queria segui-los pra achar uma saída. Mas eu acabava sempre voltando para a mesma porta. E eu estava com medo. Sabia que se eu fosse lá, nunca mais sairia. O meu assassino podia reviver um momento por muito tempo. Ele ficava se alimentando da mesma lembrança. Ele era um animal sem rosto. Infinito. Mas depois ele ia sentir o vazio voltando. E a necessidade surgiria dentro dele de novo. (grifei)

Nessa fala do Espírito, pode-se constatar seu estado de perturbação, quando se reporta ao mesmo sonho sonhado “toda noite“, em razão do trauma sofrido pela violência do seu desencarne. Nos dizem os Espíritos da Codificação que o estado de perturbação pode durar minutos, dias, meses, anos, séculos. Tudo vai depender da condição do Espírito encarar a sua realidade de forma equilibrada. Vale pontuar, que o pensamento do assassino também interferia nessa perturbação. Quando este revivia o crime cometido, nele se comprazendo, suas lembranças alcançavam a garota fazendo-a sofrer.

Adiante, Suzie comenta que “ia sempre observar Ray (o garoto por quem era apaixonada). Eu ficava no ar ao redor dele. Eu estava nas manhãs frias que ele passava com Ruth Connors, aquela garota estranha e sobrenatural, que aceitou facilmente a presença dos mortos entre os vivos (médium).” (grifei)

Prossegue a jovem morta: - “Às vezes, o Ray pensava em mim. Mas ele começou a questionar se já era hora de por essa lembrança de lado. Talvez fosse a hora de me deixar partir.” Como asseveram os grandes Mestres da Espiritualidade, os Espíritos conhecem nossos pensamentos, em razão das afinidades de sentimentos e/ou de interesses comuns - que era o caso de Suzie em relação a Ray - posto que, este ainda era o seu sonho de amor adolescente, e ele por seu turno também lembrava de Suzie e sentia saudades.

Adiante, a garota vem a falar dos seus sentimentos em relação ao seu assassino, se expressando com ódio e revolta: - “Um assassinato muda tudo. Quando era viva nunca odiei ninguém. Mas agora o ódio é tudo o que eu tenho. Eu o quero morto. Eu o quero frio e morto, sem nenhum sangue nas veias!” (grifei)

Oportuno transcrever um importante diálogo travado entre Suzie e o Espírito de outra jovem vítima do mesmo psicopata, o qual transcrevo:

Suzie - Eu fui uma idiota.
Amiga - Ele (assassino) não pode dominá-la. Você pode se livrar dele mas não desse jeito.
Suzie - O que você sabe? Não sabe de nada. Aquele homem tirou a minha vida!
Amiga - Você vai ver Suzie. No final você vai entender. Todo mundo morre.

À esse respeito a Doutrina Espírita nos ensina que o ódio escraviza a vítima ao seu algoz. Observe-se que no diálogo de Suzie com o outro Espírito - este já liberto do ódio contra o mesmo agressor - as suas colocações são muito comuns nas reuniões mediúnicas de desobsessão, quando o Espírito que se acha vítima e injustiçado, não consegue encontrar o seu “paraíso interior”!

Importante pontuar que o ódio do Espírito pelo seu algoz, influía diretamente nos sentimentos de seu pai - por achar-se ligada a este - e que embora sendo um homem pacífico, vivia obcecado numa busca incessante para encontrar o assassino da filha.

Suzie tornou-se então “obsessora” do pai. Como nos esclarecem os Espíritos Superiores, os encarnados sofrem obsessões, ou se tornam obsessores dos desencarnados, em razão das afinidades de sentimentos, gostos, e pensamentos que os vinculam uns aos outros. No caso em comento, a ligação se dava pelo sentimento em comum de revolta e ódio que nutriam pelo assassino da jovem.

O processo obsessivo do pai de Suzie, foi tão intenso, que o levou a armar-se de um taco de basebol, e sair à caça do assassino da filha para matá-lo. Na perseguição ao criminoso, este se esconde num milharal. Nesse momento, o Espírito da jovem acompanhava toda a perseguição em estado de profunda angústia, temendo pela sorte do pai - enquanto este, na busca desesperada, se depara com um casal de namorados. O rapaz ao vê-lo com o taco na mão, entende que era para agredi-los. Se antecipa, e o espanca violentamente, quase levando o pobre homem à morte.

Nesse momento, o Espírito de Suzie se desespera ao ver o pai quase morto, e toma consciência de sua forte influência sobre o comportamento do mesmo. É aí que o cenário à sua volta se desmorona, e ela cai em si dizendo: - Aí eu percebi que meu pai nunca ia desistir de mim. À esse respeito a Doutrina Espírita nos assevera que os laços de afeto são indestrutíveis.

E prossegue a jovem em sua fala: - Ele nunca me veria como uma morta. Eu era a filha dele, e ele era meu pai, e ele tinha me amado o máximo que podia. Eu tinha que deixá-lo ir! Nos dizem os Espíritos Superiores, que os laços de amor são indestrutíveis, eternos e libertadores. Daí, a garota libertou o pai da obsessão que o impingia de forma inconsciente.

À partir daí, começa o processo de libertação do Espírito de Suzie, quando passa a encarar a sua realidade, tomando ciência de todas as mortes causadas por George Harvey à outras jovens, com as quais se encontrou no plano espiritual por afinidade. Mas também encarou frente a frente a realidade de sua própria morte, quando reviu todo o processo do assassinato, seu corpo esquartejado e escondido num cofre (que ela tanto temia em ver aberto) sendo jogado pelo seu assassino num enorme buraco de um aterro.

Através da mediunidade de Ruth se despediu de seu amor, recebendo o sonhado primeiro beijo. Adiante, se reporta aos restos angelicais que tinham nascido na sua ausência que foram: - a irmã mais jovem que havia casado e esperava um bebê; a mãe que retornou ao aconchego da família, já equilibrada; Ray que ficou com Ruth a garota médium; e o assassino que morreu, caindo de um penhasco em uma noite gelada de muita neve.

No que concerne a tais fatos, assim se expressa Suzie: - As conexões às vezes tênues, às vezes criadas com muito custo, mas que com freqüência magníficas, que aconteceram depois que morri. Comecei a ver as coisas de um jeito que me permitia conceber o mundo sem mim.

- Quando minha mãe entrou no meu quarto (que até então permanecia fechado), percebi que esse tempo todo eu estava esperando por ela. Eu esperei muito. Estava com medo que ela não viesse...

E finaliza dizendo: - Ninguém percebe quando a gente vai embora. Quero dizer, o momento quando realmente decidimos partir. No máximo, podem sentir um sussurro ou a onda de um sussurro indo para baixo. Meu sobrenome é Salmon, salmão, igual ao do peixe. Meu primeiro nome é Suzie. Tinha 14 anos quando fui assassinada, em 6 de dezembro de 1973. Estive aqui por um momento e depois parti. Desejo a vocês uma vida longa e feliz. (grifei)

Diante do exposto, pode-se constatar que estamos diante de uma obra que se ajusta perfeitamente aos preceitos espíritas, quando retrata o desencarne de uma jovem, vítima da violência, narrando sua perturbação pós mortem, as ligações com a vida material, com os entes queridos, os conflitos existenciais, sua revolta, ódio, medos, e amores.

Importante que a narrativa do Espírito não viaja para o fantástico, ficando nos limites da racionalidade, das percepções mentais próprias do desencarnado, pois como nos dizem os Mestres da Espiritualidade, o Espírito se transporta pelo pensamento, e o seu estado de felicidade ou infelicidade encontra-se no seu mundo íntimo - não havendo um lugar determinado para vivenciar seu estado de inferno ou paraíso.

Oportuno ressaltar, que a autora do romance e o diretor do filme, não são espíritas, não obstante Kardec nos esclareça que “se lançarmos um olhar sobre as diversas categorias de crentes, encontraremos primeiro os espíritas sem o saber. São uma variedade ou subdivisão da classe dos vacilantes. Sem jamais terem ouvido falar da Doutrina Espírita, têm o sentimento inato dos seus grandes princípios e esse sentimento se reflete em algumas passagens de seus escritos ou de seus discursos, de tal maneira que, ouvindo-os, acredita-se que são verdadeiros iniciados.

Encontram-se numerosos desses exemplos entre os escritores sacros e profanos, entre os poetas, oradores, os moralistas, os filósofos antigos e modernos.” (LM, Cap. III, 27)

Em contrapartida, podemos observar que nos deparamos freqüentemente com obras tratando do mesmo tema, que se dizem espíritas, e estão em total desacordo com os Princípios Doutrinários Espíritas. Tal fato, deve nos servir de estímulo ao estudo efetivo das Obras Básicas, para que possamos tranquilamente separar o joio do trigo.

Fonte: Blog "Um Olhar Espírita" - link aqui.

Não existe novela espírita

Hoje se inicia mais uma novela no horário das 18:30, Amor Eterno Amor, de Elizabeth Jhin. A trama, que não é necessário falar aqui, segundo a autora, católica assumida (tudo a ver, por incrível que pareça), pretende estar relacionada com a Doutrina Espírita. Será?

Pode ser até que alguns elementos apareçam. Mas como já foi visto em outras novelas que se pretendiam "espíritas", a doutrina ou é mostrada sem profundidade, sem a lógica racional que a mesma exige ou chega a distorcer conceitos ou até chegar ao ridículo, como a risível visão do mundo espiritual da novela A Viagem, mostrada como um imenso campo de golfe onde eternamente se fica brincando de ciranda. Castigo pior que esse, só os que ocorrem no fictício umbral (o "inferno" dos espíritólics).

Numa época em que a doutrina corre o sério risco de dogmatização, graças a tradição católico/evangélica e a não-vocação racionalista do povo brasileiro, distorcer aspectos da doutrina ou ficar limitado a certos conceitos, pode ser perigoso. Pode fazer com que a ideologia codificada por Allan Kardec, um cientista, possa ter a sua finalidade, a de evoluir a sociedade através do desenvolvimento ético e intelectual, ido por água abaixo.

Com isso, a Doutrina Espírita acabará transformada num mero circo de paranormalidades, ou apenas mais uma religião como as outras, onde acreditar em absurdos se torna motivo de salvação.

Melhor classificar essa e outras novelas como espiritualistas ou pacificadoras. Usar as mesmas para servir como "meio de educação espírita" parece um mau negócio que só poderá fazer com que a doutrina seja má interpretada.

Mentira tem perna curta. Curta, mas que pode andar por muito tempo

Brasileiros adoram mentiras. Mentiras boas, felizes, caridosas, que venham de fontes confiáveis. A realidade é triste, feia e cruel, portant...