A infeliz retomada do "Espiritismo brasileiro

Diz a sabedoria que erros devem ser eliminados logo no início, pois crescidos e multiplicados, se tornam difíceis de serem eliminados. E o "Espiritismo" brasileiro se mostra um câncer cada vez mais difícil de se combater.

O "Espiritismo" brasileiro surgiu fundado por dissidentes católicos que acreditavam em reencarnação e que estavam insatisfeitos com os excessos da igreja dos padres. Resolveram fundar a Igreja dos Espíritos, seguindo dogmas sugeridos pelo dissidente católico por Jean Baptiste Roustaing, contrariando Allan Kardec, seu objeto de bajulação, que queria que o Espiritismo original fosse uma ciência e não uma seita como está sendo até hoje.

Foram 131 anos de muitos erros acumulados. Um período muito longo capaz de consagrar estes erros como "acertos". Finalmente convertido em uma igreja estranha, o "Espiritismo" brasileiros tem tido papel importante no travamento intelectual de seus seguidores, criando um novo tipo de fé cega que se alia à ciência apenas para obter aprovação, resultando na antítese que chamam de "fé raciocinada".

Mesmo com o aumento das tentativas de correção que ocorrem nas redes sociais, onde se tenta retornar ao aspecto científico de Allan Kardec, ou até mesmo pelo aumento desses debates de reparação doutrinária, as formas deturpadas, consagradas pelo médium católico Chico Xavier (que de fato nunca entendeu o Espiritismo, apesar de ser insistentemente atrelado a ele), fortalecem cada vez mais graças aos estereótipos positivos que são atribuídos à deturpada doutrina.

Por ser mais discreto que as outras seitas cristãs e pelo caráter ecumênico resultante da incorporação de inúmeros enxertos (maioria vindos do Catolicismo de Xavier e de seus fundadores), o "Espiritismo" brasileiro atrai muita gente e muita reputação. A versão deturpada ganha respeito até mesmo de ateus, já que falta no Brasil uma pessoa com poder de influência para denunciar os erros cometidos no "Espiritismo" brasileiro.

Para piorar, a FEB, entidade roustainguista que responde oficialmente em nome desse "Espiritismo" estranho, se aliou à mídia para consagrar seus dogmas absurdos e suas lideranças supostamente divinais. Por não estar oficialmente envolvido em escândalos, o "Espiritismo" brasileiro ganha cada vez mais credibilidade e se torna uma opção para quem se decepciona com outras seitas e igrejas. Infelizmente.

Infelizmente porque quem conhece os bastidores do "Espiritismo" brasileiro sabe que "escândalo" é o sobrenome da doutrina no Brasil. Além das deturpações, há muitas práticas estranhas, fraudes, preconceitos, apologia ao sofrimento, enriquecimento ilícito, caridade apenas paliativa, lideranças divinais excessivamente exaltadas, e muito dinheiro circulando. Muito mesmo! 

E esse volume maciço de dinheiro não é para os pobres, pois a quantidade de dinheiro arrecada se aplicada como dizem, teria mudado visivelmente os quadros de pobreza do país. Todos sabem que não, embora finjam acreditar que os "espíritas" sempre ajudam.

mas como nenhum desses fatos infelizmente reais não foram denunciados por nenhum figurão, o "Espiritismo" segue impune com seus inúmeros erros e as suas alianças com a mídia podem tornar o combate a essa versão deturpada destinado ao fracasso.

Infelizmente os brasileiros não fazem parte de um povo racional. É um povo que acredita em qualquer coisa e pões o prestígio de pessoas acima da coerência. A fé cega em lideranças que prometem o céu certamente tem fortalecido as deturpações da Igreja Espírita, que fortalece a cada dia, mesmo que seus erros sejam denunciados nas redes sociais. E assim, a evolução espiritual dos brasileiros permanece estagnada.

A diferença entre o "Evangelho no Lar" e um estudo sério da doutrina

Não adianta negar. O que os brasileiros conhecem como "Espiritismo" na verdade não passa de um Catolicismo light que acredita em espíritos e em reencarnação. Muitos dos dogmas e ritos do "Espiritismo" brasileiro são diretamente importados do Catolicismo, com algumas alterações. E um desses ritos é o chamado Culto ao Evangelho no Lar

Criado supostamente para "estudar a doutrina", o tal "culto" na verdade é um ritual, algo que é totalmente reprovado pelo Espiritismo original. O culto se assemelha a uma novena, onde em uma data fixa (não existe data fixa para o Espiritismo original), familiares se reúnem para ler mecanicamente o Evangelho Segundo o Espiritismo, de Allan Kardec, mas analisando de acordo com os dogmas da versão chiquista (de Chico Xavier) da doutrina. Ou seja, sem o aprofundamento intelectual necessário.

O culto é feito com um excessivo formalismo e começa e encerra com orações, como se fosse uma mini-missa no lar. mas difere muito do estudo que deveria ser feito na doutrina. Como deveríamos saber, o Espiritismo na verdade seria uma ciência que estudaria tudo que fosse relacionado com a não-matéria. Mas dissidentes católicos que acreditavam em reencarnação encontraram na obra de Jean Baptiste Roustaing uma oportunidade de criar uma espécie de"igreja dos Espíritos", que acabou resultando nesse "Espiritismo" deturpado que está aí a consagrar erros, contradições e falsos profetas.

O verdadeiro estudo espírita deveria ser informal, feito com a mais absoluta espontaneidade, numa hora em que as pessoas envolvidas estivessem dispostas a assimilar e discutir conhecimento. Nunca deve ficar preso a uma obra e esta deve estar de acordo com o assunto pesquisado. Por exemplo, para estudos sobre mediunidade, utiliza-se o Livro dos Médiuns.

Mas deve-se fugir das obras psicografadas, sobretudo as de Chico Xavier a não ser como exemplo de erros e contradições. Xavier e os seus espíritos eram na verdade católicos e segundo a lei de atração, não tinham condições de entender a Doutrina Espírita, por causa de sua formação. Inseridos na doutrina, fizeram um grande estrago que dificulta a té hoje a compreensão doutrinária de seus seguidores, fazendo erros e mais erros acumularem como bola de neve, transformando a doutrina no que é hoje, uma igreja com dogmas irreais e lideranças que espalham erros.

Tudo resultado da falta de estudo sério da doutrina. Algo que nuca seria resolvido pelo Culto ao Evangelho no Lar. Só a ideia de cultuar o evangelho soa estranha para a doutrina, pois "evangelho" é um termo católico e se foi utilizado por Kardec foi para contestação e análise e não para culto.

O formalismo do Culto ao Evangelho no lar não passa de perda de tempo que nada ajuda na compreensão melhor da doutrina, hoje totalmente dilacerada pela invasão dos dissidentes católicos.

"Você e a paz": um engodo ecumênico

Hoje a noite, como em todo 19/12 de cada ano, acontece o evento Você e a Paz. Criado para ser supostamente um movimento para estimular a paz entre as pessoas, na verdade não passa de uma missa ecumênica para celebrar o Natal. Inclui membros de várias religiões, sobretudo cristãs e a liderança do evento sempre cabe ao médium-estrela Divaldo Franco, um dos maiores deturpadores da Doutrina Espírita, apesar de ser bastante carismático.

O evento não deveria ser levado a sério, pois, como falei aqui, não passa de uma missa ecumênica. Depois de anos sendo realizado na praça do Campo grande, em Salvador, Bahia, o evento tem sido bastante inútil na transformação das pessoas, pela pieguice e pelo proselitismo religioso que apesar de ecumênico (inclui várias seitas), nada tem de laico e muito menos de racional.

A paz de fato só será conquistada com o desenvolvimento intelectual, com o divórcio definitivo da fé (que é sinônimo de credulidade) e do desprezo aos dogmas religiosos que na verdade são lendas criadas para entreter e servir de metáfora para moralismo frouxo.

Quem quiser ir, que vá. Terá bons momentos de sentimentalismo puro. Mas não vá achando que irá mudar o mundo com pieguice cristã. O evento a cada ano tem perdido público e mesmo sendo divulgado insistentemente, só consegue chamar a atenção dos frequentadores assídios da praça, que estão ali não ara o evento, mas o  assistem por mera curiosidade.

E ainda mais a liderança de um deturpador como Divaldo Franco, que apesar de se rotular como "espírita", nunca entendeu o Espiritismo e espalha pelo mundo a contaminada deturpação, é discípulo do falso espírito Ramatis, divulga a absurda tese das crianças índigo, acredita em horóscopo e astrologia e acha que Deus é uma pessoa do sexo masculino. Para promover a paz, precisávamos de um líder muito melhor do que este. De preferência bem longe de qualquer religião.

O difícil combate ao Pseudo-espiritismo na Bahia

Graças ao estudo sério das obras de Kardec, percebemos que muitas coisas que se apresentam em nome do Espiritismo no Brasil não passam de enxertos e distorções. Nos últimos anos, graças a internet, está havendo uma dedicada luta para o resgate da filosofia original kardeciana e a recusa desses acréscimos inúteis que só prejudicam a compreensão da doutrina.

Em vários estados temos combatentes: no Rio de Janeiro, no Rio Grande do Sul, em Pernambuco, Fortaleza e alguns outros, encontramos pessoas dispostas a estudar melhor o Espiritismo e eliminar definitivamente a fé cega de algo que surgiu como ciência, após muitas e muitas pesquisas.


Mas em um estado, onde vivi durante anos, a Bahia, o festival de distorções resultante da não leitura adequada das obras de Kardec (embora haja um puxa-saquismo em torno dele) ainda se mantém forte e muito longe de acabar. E há um forte motivo para isso.

Os maiores médiuns estrelas são da Bahia


O motivo tem nome. Ou melhor: dois nomes: Divaldo Franco e José Medrado. Assessorados por espíritos de padres católicos, eles atraem multidões em suas palestras que nada tem de Espiritismo, tem muito de moral, paz, amor, caridade e só. Inserem alguns "causos", muitos bem-humorados, somente para que as pessoas se tornem mais "bondosas". Isso dentro das limitações da bondade religiosa.

Muitas palestras contém erros de informação, distorções doutrinárias, informações inúteis e música, muita música. Isso baseado na falácia de que cantorias são "obrigatórias" para "purificar" o ambiente.

Graças ao prestígio desses e de outros médiuns, fica quase impossível combater as distorções doutrinárias, já que quem as contesta, não possuí a fama e o prestígio dos responsáveis pela distorção. E com o apoio imenso de grandes multidões a essa forma distorcida da doutrina na Bahia, o jeito para quem quer realmente seguir as conclusões lógicas de Allan Kardec é não se assumir espírita e se isolar dessa festa toda, estudando silenciosamente o que o mestre lionês pesquisou. 

Isso até o dia em que aos poucos aumente a quantidade de contestadores dessas distorções e surja alguém com o mesmo prestígio desses médiuns que esteja disposto a devolver a coerência e o bom senso a Doutrina Espírita, longe de espíritos oriundos de religiões alheias a causa espírita.

Mentira tem perna curta. Curta, mas que pode andar por muito tempo

Brasileiros adoram mentiras. Mentiras boas, felizes, caridosas, que venham de fontes confiáveis. A realidade é triste, feia e cruel, portant...