O esperanto e o mito da Torre de Babel

Eu havia falado recentemente sobre o esperanto e o grande interesse do Espiritolicismo (forma deturpada do Espiritismo que ainda é forte no Brasil). Uma coisa que eu não havia reparado e foi alertada pelo meu irmão é que o interesse desse "Espiritismo" caricato e algumas religiões cristãs pelo idioma pode estar relacionado com o mito da Torre de Babel e com a utilização do idioma como forma de confraternização universal, o que parece ser uma bobagem. Segundo meu irmão, o interesse das religiões pelo esperanto pode representar uma tentativa de reverter o que aconteceu no mito da Torre de Babel.

Como uma pessoa formada em Letras (embora não tenha vocação nesta área - sou mais um administrador por vocação), sei que a estória da Torre de Babel não passa de uma lenda a entreter quem gosta de acreditar em mitos. Idiomas não surgiram desta forma, mas como religiões são mitologias, lendas ganham status de "fatos". Mas vamos conhecer a lenda para tentar entender isso.

A lenda da Torre de Babel

Trocando em miúdos, a lenda fala da iniciativa de pessoas a construírem um gigantesco templo que alcançaria os céus. O suposto Deus (antropomorfizado) não gostou de ver as pessoas tentarem alcançá-lo e se vingou lançando como praga a criação de vários idiomas, um para cada pessoa, para que não se entendessem e com isso interrompessem a construção da tal torre. 

Esta lenda seria na verdade uma metáfora para o não entendimento entre as pessoas de ideias diferentes, como se alertasse que se as pessoas não se entendessem, os objetivos nunca seriam alcançados. Isso é uma interpretação minha, mas faz bastante sentido.

Mas a lenda, atribuída ao surgimento dos idiomas (o que sinceramente me parece absurdo, se analisarmos as características léxicas, sintáticas, semânticas e fonéticas dos idiomas em toda a História mundial), agrada aos religiosos, já que como narrativa bíblica, soa para eles como "verdade". O fanatismo religioso cega a razão e impede análises profundas do que é ou não fato na bíblia, já que muitas das estórias bíblicas são lendas, pois era comum usar lendas pera explicar as coisas na Idade Antiga. Só que a Bíblia não especifica o que é ou o que não é lenda, gerando tal confusão (seria a lenda da Torre de Babel a previsão metafórica sobre as confusões bíblicas? - isso pode ser discutido em texto a parte: o que acham?).

O que o esperanto tem a ver com isso?

Segundo a observação interessante dita pelo meu irmão Alexandre, o esperanto seria uma tentativa de reverter a confusão gerada pela "revolta divina" pela construção da Torre de Babel. Como a confusão resultante da diversidade linguística supostamente oriunda do episódio desuniu as pessoas, o esperanto seria uma forma de reunir as pessoas em uma só língua, usando a fala como elemento unificador da humanidade (o que é verdade, mas não exclusivamente).

O esperanto surgiu para facilitar a comunicação entre as pessoas. Quando foi criado, nada tinha a ver com religião. Mas a ideia de utilização de um idioma único como forma de confraternização e entendimento, fascinou os religiosos, que passaram a divulgar o idioma.

Como atualmente o esperanto é mais divulgado entre os meios místicos, gerou um estigma negativo ao idioma como "linguagem de místicos", enfraquecendo a adesão. Somando a isso, a difusão do inglês e do castelhano como idiomas comerciais dispensou o conhecimento de esperanto, frustrando o objetivo inicial de quem criou esse idioma.

De qualquer forma, tanto a lenda da Torre de Babel, como a transformação do esperanto em idioma único da humanidade são na verdade resultado de crenças. O que interessa mesmo é haver uma comunhão de ideias, com o desenvolvimento da vontade de contestar, de analisar e de utilizar o discernimento. Só assim, poderemos separar fatos de opiniões e gerar um pensamento não digamos único, mas concordante, pois há ideias que não podemos recusá-las de tão lógicas que são. Mas aceitar ideias sem verificá-las, só por fé, é um grave erro que manterá a eterna confusão ideológica que causa tantas brigas entre as pessoas nos dias de hoje. 

Incoerentes nunca concordam com os coerentes. Nem mesmo com os próprios incoerentes.

Esperanto, pode ficar esperando...

Uma discussão em uma comunidade - realmente - espírita no Facebook (espírita, não chiquista da FEB), me fez pensar em escrever um tópico falando sobre o esperanto. Apesar de não ter sido criada para o "Espiritismo" brasileiro (assim como o latim não foi criado para o Catolicismo), os seguidores da FEB e de Chico Xavier são os maiores difusores do esperanto, pelo menos no Brasil dos dias de hoje. Tal como o latim foi para os católicos, os pseudo-espíritas pretendem fazer o mesmo com o esperanto.

Não vou aqui me alongar sobre o que é o esperanto. Coloco a disposição este link para vocês conhecerem melhor sobre a língua. Vou me limitar aqui a falar da relação entre este idioma criado artificialmente e o Pseudo-Espiritismo, falando dos aspectos do esperanto que se relacionam com a forma deturpada de Espiritismo que é erroneamente difundida no Brasil.

Criada para facilitar a comunicação entre falantes de diferentes idiomas, o esperanto acabou se tornando personagem de um fantasioso dogma defendido pelos pseudo-espíritas que o tratam como idioma do futuro da humanidade. 

Creem os pseudo-espíritas (os espíritas seguidores de fato de Kardec não acreditam nisso) que a humanidade terá uma única crença (o que eles entendem como o Espiritismo, na verdade o Espiritolicismo) e falará um só idioma, o esperanto, que eles acreditam não ser um idioma comum e sim uma verdadeira forma de confraternização universal em forma de linguagem. O fato do esperanto ter uma bandeira pode reforçar esta crença, acrescentando a ela a ideia de que a humanidade se reunirá em uma só ração.

Revistas, palestras e cursos dados por pseudo-espíritas tentam difundir o idioma pelo país, gerando um estigma errado de que o esperanto é a língua dos "espíritas" (obviamente se referindo aos  pseudo-espíritas, seguidores de Chico Xavier, não de Kardec). Não é, embora os pseudo-espíritas sejam os mais interessados na difusão do idioma, por ele estar de acordo com a crença no falso procedimento de evolução planetária e espiritual.

A intenção de criar o esperanto foi boa. Mas ela não parece necessária, pois o inglês e o espanhol tem suprido bem a função de idiomas mundiais. Graças às religiões e ainda mais o Pseudo-Espiritismo, o esperanto acabou estigmatizada como língua de exotéricos, enfraquecendo sua função original.

Esquecido pelos laicos e estigmatizado como língua de místicos, o esperanto pode desaparecer definitivamente, após se tornar chacota feita por quem prefere um idioma mais objetivo e que não esteja ligado a nenhuma forma de crendice mística a defender um mundo que só existirá na imaginação de seus seguidores.

Seria o esperanto um idioma de um mundo fictício?

Não somos brasileiros. Estamos brasileiros. E um dia deixaremos de ser

O patriotismo na verdade é um sentimento materialista. Se ainda temos que cultuar símbolos cívicos e amar um pedaço de terra é porque ainda estamos atrasados e não temos a condição de entender que a nossa verdadeira pátria é o universo em toda a sua extensão. Somos limitados e infelizmente somos educados a sentirmos felizes nesses limites.

Não dá para entender porque muitos que se dizem espíritas se afirmam patriotas e ainda tremem quando ouvem o Hino Nacional que, cá pra nós, é bem rebuscado, prolixo e seu conteúdo está bem aquém e além da realidade de nosso país. Temos um hino cuja letra é pura ficção e ainda endeusamos a mesma.


Adorar símbolos cívicos pode até parecer bonito, mas convenhamos: o que há de respeitoso em adorarmos pedaços de pano, escudos de metal, e um hino sem sentido, além de um monte de areia, se ainda não aprendemos a amar a verdadeira riqueza de nosso país: as pessoas que vivem nele?

Do contrário que muitos "espíritas" lunáticos pensam, o Brasil não está próspero e ainda estará bem longe da prosperidade. Líder mundial? Tem que ser muito infantil para acreditar que o Brasil vai liderar o mundo nas condições em que se encontra, com problemas sem solução e uma população que ainda não aprendeu a usar o discernimento e que só sabe promover brigas em redes sociais, por causa da teimosia dos incoerentes. Estamos muito, mais muito longe de sermos um exemplo para o mundo. Creio que no mínimo uns 10 milênios sejam necessários para isso.

Se não bastasse a nossa historiografia toda ter sido contada através de lendas alucinadas, ainda temos que engolir a farsa da tese da "liderança mundial", onde se crê que no início do século XXI, o Brasil liderará o mundo. Acordem, crianças! E amadureçam!

Vamos curtir os festejos do Dia da Pátria, mas sabendo que são apenas festejos. Como aquela festa infantil cheia de balões, com doces na mesa e palhaços no palco. Quando a maturidade chegar, daqui a muitos milênios, vamos perceber que todo esse culto foi inútil e só serviu para nos ajudar a fugir da verdadeira luta que a suposta brava gente tem a missão de seguir: a de contribuir para uma sociedade mais justa e sem problemas. Mas isso é muito mais difícil do que segurar bandeirinha e sorrir para soldados.

Mais difícil até do que entender a absurda e complicada letra de nosso hino.

Mentira tem perna curta. Curta, mas que pode andar por muito tempo

Brasileiros adoram mentiras. Mentiras boas, felizes, caridosas, que venham de fontes confiáveis. A realidade é triste, feia e cruel, portant...