Um grupo de espíritas de linha kardeciana (longe do Roustainguismo enrustido praticado no Brasil) que segue orientação progressista na política, não gostou de uma entrevista dada por Divaldo Franco em que ele demonstra um conservadorismo bastante arcaico e cheio de erros, condenando doutrinas políticas de esquerda e fazendo comentários preconceituosos contra classes oprimidas.
O texto sensato, se lembrarmos que a doutrina kardeciana não é a praticada no Brasil, é bom lembrar - foi publicado no site progressista GGN, do jornalista famoso Luís Nassif, que é um dos sites que recomendo para quem quer saber de notícias de forma altamente confiável. O manifesto, devidamente assinado, está neste link.
Mas é bom lembrar a estes espíritas, que muitos brasileiros conheceram a doutrina através, não de Kardec, mas do beato católico e deturpador do Espiritismo, Chico Xavier, que a versão brasileira da doutrina está completamente contaminada por inúmeros dogmas conservadores. O que significa dizer que Divaldo Franco estava coerente com a versão brasileira da doutrina, sendo uma injustiça isolá-lo na responsabilidade pelas declarações.
A FEB (Federação "Espírita" Brasileira) já começou conservadora. Foi fundada por católicos de orientação medieval que acreditavam em reencarnação. Aproveitaram as ideias conservadoras de Jean Baptiste Roustaing, até hoje o verdadeiro patrono do "Espiritismo" brasileiro, segundo o que aparece escrito no regimento interno da FEB. Mas como Roustaing não tinha carisma, Kardec foi adotado como um garoto-propaganda, sem que suas observações fossem plenamente seguidas.
O primeiro grande ídolo da FEB, Adolfo Bezerra de Menezes, fiel defensor de Roustaing, era um político de linha conservadora e que por motivos econômicos teve que aderir ao Abolicionismo. Não há uma biografia séria sobre Bezerra, conhecido apenas por lendas e boatos. Mas segundo pessoas que descendem dos que conviveram com Bezerra, tudo que falam de positivo sobre ele é falso, sendo ele o verdadeiro vilão, responsável pela primeira grande deturpação da doutrina no Brasil.
A doutrina como um todo tem em seu repertório dogmático, muitos pontos conservadores, como a Teologia do Sofrimento, a criminalização do suicídio, a obediência cega a lideranças, a tese de que ricos são a reencarnação dos bons e pobres a dos maus, baseando-se na lei de prêmio/punição, além da caridade puramente paliativa (comumente praticada por direitistas e que não fere a ganância das elites), entre outros pontos que vão contra a doutrina original codificada por Allan Kardec.
Ficamos felizes com a inclusão de Sérgio Aleixo, espírita (sem aspas) carioca de linha progressista como um dos signatários da lista mencionada, que tem se esforçado no projeto de devolver o Espiritismo à doutrina original, defendendo o verdadeiro altruísmo praticado pelas forças políticas de esquerda, infelizmente difamadas por uma elite que se recusa a repartir bens e direitos. Aleixo é a pessoa certa para que o Espiritismo possa recuperar seu progressismo e sua coerência original, descartando o igrejismo conservador embutido por Bezerra, Chico e Divaldo.