O Espiritolicismo, forma deturpada do Espiritismo, praticada com insistência no Brasil, gosta de priorizar faculdades mediúnicas que possam gerar renda financeira. Argumentam que é para a caridade, mas as transformações sociais que deveriam vir dela são tão pífias que nos leva a crer que o objetivo mesmo é enriquecer com essas atividades, já que se pode mexer com dinheiro de forma bem escondida, sem que ninguém perceba.
Uma das facildades mais curiosas é a psico-pictografia ou simplesmente "pintura mediúnica". É quando um médium recebe o espírito de um pintor e começa a pintar quadros que servem de mensagens que o espírito gostaria de dizer. Lindo, maravilhoso, mas nem sempre verdadeiro.
Para os espiritólicos, basta um espírito dizer "eu sou fulano" para que médiuns e seguidores o aceitem como tal. Adeptos da fé cega (que eles criminosamente chamam de raciocinada) e avessos a pesquisas aprofundadas, preferem aceitar a identificação imediata do espírito sem imaginar que na verdade possa ser outro espírito usando o nome de outro para se promover. Espíritos são homens sem os corpos: se eles enganam aqui, enganariam muito mais do lado de lá, já que não podemos ver quem é de fato.
Apenas espíritos famosos nas psico-pictografias brasileiras
As pinturas mediúnicas no Brasil despertam uma certa desconfiança de especialistas e de pessoas com um melhor discernimento. Algumas pistas estranhas levam a crer que ou a identidade dos espíritos é falsa, ou na verdade o médium pinta por conta própria, seja materialmente ou através do animismo (a mediunidade de si mesmo).
Embora haja outros médiuns fazendo a mesma coisa, vou me ater ao caso do baiano José Medrado, porque tive a oportunidade de conhecer. Assisti a duas sessões de pintura e percebi semelhanças, embora na época estivesse intelectualmente cego, iludido com a deturpação.
O que me estranha é que apenas pintores famosos supostamente pintam através de Medrado. E todos os pintores, de qualquer estilos, sobretudo os impressionistas. Estranhamente todos os quadros mostram temas religiosos, coerentes com os enxertos católicos característicos da forma deturpada que praticada no Brasil. Temas que muitas vezes, (salvo exceções, como no quadro mostrado nesta postagem, de uma psico-pictografia atribuída a Cândido Portinari) nada tem a ver com o dos espíritos atribuídos.
O que me estranha, nessas sessões e me põe para coçar a cabeça é que os espíritos são sempre famosos e consagrados. Dá a impressão (impressionista?) de que os espíritos - supostamente - de pintores famosos estão unidos na mesma causa. Espíritos que em vida não se conheciam, não tiveram interesses em comum e possuíam traços de personalidade totalmente diferentes.
Se lembrarmos da lei de atração - solenemente ignorada pelos espiritólicos - isso não poderia ser possível, já que aparecem espíritos de natureza totalmente diversa. Não haveria de todos se manifestarem em um só médium, em uma só cidade, por um só interesse.
É bom demais para ser verdade que todos os espíritos de pintores famosos, supostamente superiores (para os espiritólicos seriam espíritos superiores, mas suas biografias mostram defeitos bem mundanos) resolvam se reunir para se comunicar através de um simples médium, um ser falível que em suas palestras faz piadas grotescas, fala mal de gordinhos e vive dizendo que casamentos são ruins e que é "natural" um marido detestar a sua esposa. Isso fora as acusações de ocupação ilegal para a implantação de sua Cidade da Luz. Mas isso é outra história que merece uma cuidadosa investigação.
E outra coisa, se o Zé da Tinta, um modesto pintor de paredes, um espírito de um cidadão qualquer, resolva usar a faculdade de Medrado para se manifestar, ele não pode? Quadro de Zé da Tinta, por mais belo que seja, não venderia tanto? Bastava divulgar o nome do Zé da Tinta para que ele pudesse se tornar famoso e ganhar visibilidade.
E se Zé da Tinta não puder assinar com o próprio nome, poderia ele imitar o estilo de alguém famoso e assinar com o tal nome? Claramente possível disso acontecer, pois se existem farsantes encarnados, por que não haver farsantes desencarnados? Zé da Tinta poderia muito bem se manifestar como Renoir e guiar Medrado nessa sua suposta "missão".
Medrado falso médium ou médium de falsos espíritos?
Mesmo que a mediunidade de Medrado seja verdadeira, é possível que os espíritos manifestados sejam falsos, imitadores de estilos e que usam os nomes de famosos para angariar simpatia.
Mas isso não descarta a hipótese de falsa mediunidade, já que durante o "show de Bezerra" no qual o mesmo médium supostamente recebe o falecido deputado Bezerra de Menezes, de maneira visivelmente grotesca, andando torto e falando com voz inaudível, algo inconcebível a um espírito que se apresente como superior. Há inícios fortes de que Bezerra tenha reencarnado há muito tempo, o que torna a sua manifestação nos últimos 30 anos impossível.
Especialistas em pintura acreditam - Medrado nega - que o famoso médium tenha tido muito treino para pintar daquele jeito. Nota-se que ele não fica de olhos fechados o tempo todo e que não é impossível imitar com quase perfeição o estilo de qualquer pintor, por melhor que este seja.
Espíritos sérios não aprovariam o assistencialismo espiritólico
Mas mesmo assim, até segunda ordem, prefiro acreditar na hipótese dos falsos espíritos. Médium não é médium 24 horas por dia e mesmo fingindo mediunidade em alguns momentos, pode se receber de fato espíritos em outros momentos.
O que se pode dizer é que não é possível que espíritos famosos e importantes para a historiografia da pintura se manifestem de forma tão medíocre e mesquinha, através de UM SÓ MÉDIUM e pintado apenas sobre temas sacros.
Só a fé cega e a falta de raciocínio para justificar uma aberração deste tipo que acaba fascinando muitos, obrigando a gastar fortunas em prol de um assistencialismo paliativo e nada transformador.
Assistencialismo que faz com que jovens carentes sejam (des)educados com os mesmos pontos de vista ilusórios de seus tutores, enganados pela falácia de que "só estamos evoluindo", quando os fatos ao nosso redor nos provam que ainda estamos presos no início da condição de "provas e expiação", de que ainda insistimos em permanecer. E isso, os grandes pintores do passado, por mais falíveis que fossem, nunca iriam aprovar.