A receita do que muitos brasileiros conhecem como "Espiritismo" é simples: 1) Pega-se o Catolicismo medieval; 2) Elimina-se o que for de desagradável nele; 3) Acrescenta noções de reencarnação e comunicação com os mortos; 4) Acrescenta-se um monte de enxertos de outras crenças, que forem interessantes.
Essa bagunça toda é que faz o que os brasileiros chamam de "Espiritismo", uma seita estranha, misturada, arrogante, materialista (apesar de bater no chão que "não é"), onde muitos dogmas católicos são mantidos quase inteiros, com algumas adaptações. Mas intactos em sua essência.
O "Espiritismo" brasileiro foi fundado por ex-católicos que assimilaram as "lições sábias" de Jean Baptiste Roustaing (mas posteriormente atribuindo tais ideias a Allan Kardec, que discordava de Roustaing). Isso, além dos fundadores quererem agradar a Igreja Católica que os educou, mantendo dogmas para não criar polêmicas. Por isso mesmo que há ainda muita semelhança entre o Espiritismo brasileiro e a Igreja Católica.
Para os seguidores, basta a ideia de reencarnação e comunicação dos mortos para identificar uma "grande diferença" entre o que eles acreditam com as crenças católicas. Mas na prática, o que se vê é que isso não passa de mero detalhe. Os ícones católicos são lembrados pelo Espiritismo brasileiro. A Bíblia ainda é a principal fonte de compreensão. Há muitos espíritos de padres, madres, freis , etc., inseridos como "mestres do Espiritismo". Rituais típicos do Catolicismo são apenas adaptados, mas com semelhanças ainda perceptíveis. Filmes "espíritas" produzidos no Brasil mais parecem filmes bíblicos passados nos dias de hoje.
E porque tentar separar um do outro? Porque observamos casais formados por "espíritas" chiquistas e católicos que se dão muito bem? Porque quando um "espírita" assiste um sermão de uma missa católica, não estranha nada do que está dizendo? Porque "espíritas" ainda desejam batizar e crismar seus filho, sobrinhos e afilhados? Simples: o que os brasileiros conhecem como "Espiritismo" não passa de um Catolicismo que acredita em reencarnação.
Às vezes imagino que se o Papa Francisco, que se mostra muito interessado em rever os dogmas católicos, admitir a reencarnação, a FEB e os centros que ela sustenta vão à falência, pois os católicos enrustidos que pensam que são "espíritas" retornarão a sua velha e querida "seara", pois encontrarão nela aquilo que estavam procurando.
Lembrando que nos primórdios, o Catolicismo acreditava em reencarnação, o que foi eliminado ainda na Idade Média. O que mostra que o Catolicismo medieval que está inserido no que os brasileiros conhecem como "Espiritismo", não viu problema nenhum em assimilar a ideia de reencarnação.
O Espiritismo brasileiro é uma igreja. Uma igreja moldada no Catolicismo mais primitivo. Metida a moderna, a avançada, emperrou a evolução espiritual de seus seguidores mantendo-os prisioneiros da mais "santa" fé cega. A codificação kardeciana foi solenemente jogada no lixo, substituída pela bíblia e por livros psicografados com ideias sem pé nem cabeça ditadas por espíritos afinados com o climão de igreja medieval que se instalou na versão brasileira da doutrina.
Desejosos em caminha ao progresso, acabamos caindo na areia movediça do igrejismo barato. E não estamos dando sinais de que iremos sair dessa areia a movediça.